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Pesquisas com meio ambiente ganham um Núcleo de integração

Publicado: Sábado, 01 Fevereiro 1992 00:00 | Acessos: 7889

Matéria publicada no Jornal Beira do Rio em fevereiro de 1992.

Foto: João Sérgio

Definir linhas de ação na área do meio ambiente e promover o desenvolvimento de ciências ambientais, além de criar condições para a operacionalização de programas de forma articulada com as demais unidades acadêmicas e dentro de uma visão holística do meio ambiente amazônico. Estes são os principais objetivos do Núcleo de Meio Ambiente (Numa), órgão de integração da Universidade Federal do Pará, criado no primeiro semestre.

Com a criação do Numa, a UFPA atinge a capacitação de desempenhar, em toda a plenitude, o seu papel relevante no processo de transformação da relação entre natureza e sociedade na perspectiva do desenvolvimento sustentado. Afinal, a direção da UFPA reconhece que a questão mais fundamental que se levanta em relação à execução de um programa de ensino e pesquisa, visando conduzir as diferentes instituições ao desenvolvimento pleno de suas potencialidades na área de meio ambiente, advém de duas naturezas. A primeira, e mais difícil, é a de sua dificuldade em dirigir o potencial de pesquisa instalado para responder à demanda das agências de fomento, de forma articulada e interdisciplinar. A segunda é a de polarizar, a curto prazo, a formação de pessoal, através da pós-graduação para essa área, de modo a preencher o vácuo de competência regional.

O Numa, com o propósito de promover essa articulação, deu início à formulação de um programa global denominado de "Universidade e Meio Ambiente", que representa o esforço inicial de integração interdisciplinar de produção de conhecimentos científicos de recursos humanos, definindo, assim quatro linhas básicas: formação e desenvolvimento de recursos humanos, pesquisa e monitoramento ambiental, educação e informação ambiental, e gestão do ensino, pesquisa e extensão na área ambiental.

O cenário em que a UFPA atua é hoje, sem dúvida, o centro da atenção mundial, em função da agressão devastadora de projetos nele implantados sem o conhecimento prévio de suas populações, em especial da comunidade científica instalada. A devastação da floresta, resultado tanto da atividade madeireira desenfreada como dos incentivos governamentais concedidos a projetos agropecuários, gerou graves problemas à população amazônica, à variabilidade do clima, ao regime dos rios, ao solo e subsolo e à fauna.

A atividade garimpeira, principalmente a aurífera, com o uso abundante do mercúrio poluindo desastrosamente os rios e, talvez, a mais séria, pois ao atingir a cadeia alimentar atinge o homem que se utiliza dos peixes como alimento básico. As endemias, como a malária, tuberculose e outras, devem merecer a atenção especial da comunidade científica a fim de reverter esse quadro. A dificuldade de manutenção das comunidades indígenas, que sofrem impactos de toda a ordem, decorrentes das atividades madeireira e garimpeira, requerem tratamento específico. Por fim, o reduzido pessoal técnico e científico que se encontra atuando na região, face à dimensão desses problemas, necessita de incremento imediato.

Diante de todos esses problemas, a UFPA considerou necessário planejar estratégias de conservação e manejo de recursos naturais, garantindo a coexistência do desenvolvimento do setor produtivo com a preservação da biodiversidade. O Numa, para este caso, é fundamental, pois em outro nível deverá subsidiar a formulação de políticas e estratégias em sua área de atuação, assim como organizar grupos de estudos utilizando os recursos humanos e materiais de diferentes departamentos, articulando-os com outras instituições científicas e técnicas da região, do Brasil e do exterior.

Além disso, deverá estimular e desenvolver em caráter complementar projetos interdisciplinares de pesquisa, em âmbito intra e interdisciplinar, congregando estudiosos e pesquisadores à problemática do meio ambiente. O Numa irá, ainda, formar e capacitar recursos humanos em programas de pós-graduação que possibilitem o desenvolvimento de projetos de pesquisa e a qualificação de profissionais capazes de compreender o ambiente de maneira integrada, promover programas em educação ambiental e outros em caráter extensionista, organizar e manter atualizado um banco de dados correntes e documentários com informações relativas à área ambiental, assim como incentivar e divulgar a produção científica e técnica resultante dos estudos realizados sobre questões ambientais.

Para o coordenador do Núcleo de Meio Ambiente professor Juan Bordalez Hoyos, a implantação do Numa aponta a Consolidação de uma nova geração de especialistas, pesquisadores e professores no quadro da instituição federal de ensino superior, que possam gerar documentos e conhecimentos para o tratamento científico da questão ambiental, visando o próximo século. "Os desafios do presente e do futuro se constituem nos principais focos de nossas atenções no que diz respeito à relação equilibrada entre o homem e a natureza", afirma.

É intenção também fazer com que o Numa se estenda aos campi avançados, seguindo a programação de interiorização da UFPA. "As exigências de atuação imediatas são tratadas pela Universidade através de seus centros acadêmicos científicos", acrescenta Juan Hoyos. "No que depende de ações que fogem de sua competência, tais problemas serão encaminhados às instâncias municipais, estaduais e federais correspondentes. Este trabalho vai ao encontro de uma filosofia de ação de implantação do Numa e que se recusa a discursos vazios e ao excesso de retórica no equacionamento dos problemas ambientais, já que a UFPA, como centro de produção de conhecimento e alternativas de solução, tem como missão principal o respaldo de suas propostas e estudos de sustentação técnica e científica", completa.

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Publicado originalmente em Jornal Beira do Rio, fevereiro de 1992, nº 30, Edição Especial sobre Meio Ambiente (clique aqui para acessar o original).

 

Veja mais:

Histórico do NUMA

O Chalé de Ferro da UFPA

Chalé de ferro remontado na UFPA (Jornal Beira do Rio, fev./1992)

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