Mudanças Climáticas: o Apocalipse é outro
Artigo do professor Dr. Norbert Fenzl foi publicado no jornal O Liberal de 6 de novembro. O texto é referente às mudanças climáticas, tema que tem total atenção nesse período, quando acontece em Paris, na França, a Conferência do Clima.
A humanidade assistirá a mais uma Conferência sobre Mudanças Climáticas e discussões sobre a redução de CO2. O debate aos iniciou-se em 1971 devido os impactos socioeconômicos causados por enchentes, secas e ciclones. O principal documento em debate é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que seleciona dados científicos existentes, de acordo com critérios próprios, para fornecer argumentos sobre a influência da atividade humana sobre as mudanças climáticas.
O último relatório do IPCC afirma que a mudança climática se deve “muito provavelmente - ou seja, com mais de 90% de certeza – à ação humana” através da emissão de gases do efeito estufa, que causariam um aumento da temperatura global entre 1,8 d.C. e 4 d.C até o final do século.
Uma ampla análise de artigos científicos mostrou que há um grupo significante de cientistas, chamados céticos, que diverge do IPCC sobre o papel dos gases de efeito estufa como fator determinante no aquecimento global.
A atividade industrial, agropecuá- ria, o uso de energéticos fósseis emitem CO2, inclusive a respiração da população mundial produz cerca de 2 bilhões de toneladas de CO2/ano. Em comparação, a frota mundial de veículos emite cerca de 1,8 bilhão de toneladas de CO2/ano.
Os céticos consideram que mudanças climáticas são fenômenos normais da evolução do planeta, causados principalmente por modificações do eixo de rotação da Terra e da órbita em torno do Sol, variações da atividade e radiação eletromagnética solar e fatores oriundos da nossa Galáxia e do núcleo da Terra. O clima, como fenômeno não linear de altíssima complexidade, resultado da interação de inúmeros fatores, não poderá ser controlado simplesmente com a redução da emissão do CO2, cuja concentração na Atmosfera é de 0,03%.
A mídia, políticos, governos e cientistas afirmam que o aquecimento global é o “apocalipse climático” do século. Provavelmente, estamos numa fase de aquecimento global, saindo da pequena era glacial medieval da segunda metade do milênio passado. A questão é se a humanidade é responsável pela Mudança Climática, e se a redução dos gases estufas pode nos salvar.
Aqui cabe uma reflexão. Antes de pretendermos modificar o clima mundial, que depende de poderosos processos geológicos e astronômicos, não seria necessário resolver os problemas causados por nós mesmos e que podem levar a humanidade ao apocalipse?
Exemplos. O gasto militar mundial é de mais de US$ 1,7 trilhão anual, enquanto o orçamento total anual da ONU é de apenas 1,8% desse valor. Hoje 60 milhões de pessoas estão fugindo de guerras em 16 países.
A salvação do corrupto sistema financeiro mundial nos custou cerca de 15 trilhões US$, enquanto a dívida externa dos países classificados como pobres é de somente 0,5 de US$, trilhão e 40% da população mundial vive de somente 5% da renda global . Atualmente, 121 milhões de crianças não tem acesso à educação, 10,6 milhões morrem antes de atingir 5 anos, 1,4 milhão, por águal potável, e 2,2 milhões por falta de vacinas.
As catástrofes causadas pelo clima na realidade trazem à tona a insustentabilidade do nosso sistema econômico baseado na ocupação destrutiva e irracional dos espaços geográficos do planeta, onde 75% da humanidade vivem em áreas instáveis.
Durante 99% do tempo, o planeta existia sem seres humanos, muitas espécies apareceram, despareceram e climas mudaram. Precisamos acabar com a prepotência de achar que podemos mudar o clima quando ainda somos incapazes de nos salvar das misérias e das guerras que nós mesmos produzimos.
Precisamos, sim, reduzir a emissão de gases de efeito estufa, como TODA a poluição do ambiente que anualmente causa a morte de milhões de pessoas. Nosso desafio do século é, portanto, usar os recursos empregados nas guerras, especulação e destruição ambiental, para nos ADAPTAR às mudanças climáticas. Se isto tiver um efeito positivo sobre o aquecimento global, que seja bem-vindo.
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Norbert Fenzl é doutor em Hidrogeologia e diretor Adjunto do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA.
Publicado na edição de sexta-feira, 6 de novembro de 2015, do Jornal O Liberal, caderno Atualidades, pág. 2
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